24.1.12

Anúncio da minha morte


± Obituário ±
18.01.1981 - 18.01.2012

Paz à sua alma

Ao nascer-do-sol do passado dia 18, faleceu a filha de Manuel e Maria, a mais nova de seus dois filhos.
Anuncia-se, pois, que quis o destino roubar-lhe o sopro,  precisamente no dia em que festejava o seu 31º aniversário, sem que, sequer, chegasse à hora de o completar. 
No dia de maior festejo, celebrou-se também o dia de maior dor. Morreu a rapariga mais promissora da terra. Morreu a filha de Manuel e Maria.
Os seus pais e irmão, que muito a estimavam, lamentam agora os dois acontecimentos que se juntaram num só dia: Primeiro, que tivesse nascido e, agora, que tivesse padecido. Sabe-se hoje que, se não tivesse nascido, o vexame que a acompanhou à morte nunca teria sucedido.
Num percurso de vida que se previa auspicioso, esta jovem finou-se sob uma história fétida que perdurará nas memórias que teremos dela. No dia que comemorava o seu aniversário, quis o destino que se casasse também, com um dos filhos mais queridos da terra. Bom moço, que há-de merecer melhor no futuro, assim Deus o queira. 
E no mesmo dia, ainda antes de se casar, acabou por morrer nos braços de outro homem. O maior canastrão, que a soube desencaminhar do percurso cândido que a esperava.
Ninguém, em tempo algum, haveria de prever que esta boa-filha teria um final tão infeliz e obscuro, que tão poucos quererão recordar.
Morreu vestida de noiva no seu aniversário. Não chegou a casar. Nunca no seu útero se criaram fetos, e não chegou a ser amada na noite de núpcias pelo seu marido.
Morreu seca, deitada numa cama que não era a sua mas onde Deus quis que se fizesse justiça. Morreu de corpo consumido e de sorriso nos lábios mas sem a castidade que se esperava de uma noiva, de uma filha de pais dignos, pessoas de rosto hirto e brioso. Morreu a filha de Manuel e Maria, da maneira menos católica que estas palavras agora mereceriam.
Pela vida que levou e pela infeliz morte que teve, lembramos hoje, esta irmã que partiu para junto do senhor… De um qualquer outro senhor, que não o do céu, porque Esse, com certeza, não a irá receber.
Não haverá missa para encomendar o seu corpo, por não haver destinatário que a queira acolher, mas a sua família agradece a todos quanto a souberam amar em vida e lhe queiram agora asilar as cinzas.






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